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domingo, 2 de novembro de 2014

Samuel Pereira de Almeida, um Vanguardista Itabaianense.

Posse de  Luciano Correia na Academia Itabaianense de Letras apresentado pelo Acadêmico Antonio Samarone...
"O homem, um ser historicamente construído, tem nos seus ancestrais a condição de mediadores quando na sociedade em que vive há uma cultura de memória. No entanto, é o registro fiel dos acontecimentos que favorece a garantia da preservação das histórias de vidas. Ao contrário, a sociedade fica condenada a ser refém da imaginação, de mitos, que podem distorcer a verdade da existência humana. Nesse caso, há uma perda no espaço e no tempo de contribuições que poderiam servir de exemplos e, mesmo como referências inacabadas, se constituiriam de ponto de partida para reconstrução melhorada da vida em sociedade. Por isso, a criação da Academia Itabaianense de Letras tem grande importância. O levantamento de vultos históricos da cidade escolhidos como patronos dos Acadêmicos, são por eles biografados e motivos suficientes para que se perceba a grandeza de nossa gente.
Dessa vez, a posse do Acadêmico Luciano Correia teve como patrono uma personalidade de nossa história que se confunde com a música e de sensibilidade melódica inerente ao Itabaianense. Prova disso é a contínua existência da Filarmônica N Srª.da Conceição (Sociedade Filarmônica Nossa Senhora da Conceição ) desde sua criação datada do século XVIII até os dias atuais. Considerada a mais antiga do Brasil, tem nos seus pioneiros, referência para sua reconstrução melhorada que passa atualmente essa Sociedade Filarmônica. Tudo isso graças fundamentalmente ao empenho de pessoas aguerridas como o Maestro Valtênio e do Dr. Rômulo De Oliveira Silva que atualmente asseguraram de forma brilhante a preservação de um acervo de partituras e instrumentos com a criação de um Museu, e desenvolvimento de outras atividades que possibilitam ampliar os horizontes a tantos jovens pela motivação musical.
A cerimônia de posse foi abrilhantada pela Banda Sinfônica N. S. da Conceição que nos remeteu aos primórdios de sua existência executando composições do patrono Samuel Pereira de Almeida. Por sua vez, Luciano Correia que apesar de contar com pouca informação a seu respeito conseguiu realçar a importância do músico. Iniciou sua fala historiando brevemente a relação da música com a evolução do homem e enaltecendo a virtude de nosso povo em se fazer sensível às notas musicais utilizando-se de intertextos significativos que mereceram prazerosamente a atenção do público presente. Eu cá na minha habitual introspecção,acompanhada de meu irmão Jorge Pi (que também trás nas entranhas o viés da música) como bisneta de Samuel, pensava como poderia ter sido bem mais proveitosa toda essa biografia se historicamente em nosso meio tivesse mais valorização de registro da ocorrência dos fatos relevantes de nosso município, uma vez que seus descendentes mais próximos já não mais vivem entre nós.
O tempo presente recebe como lição esse vácuo de informações, mas tem a vantagem de doravante ser mais benevolente com o registro histórico. É nesse sentido que surge a Academia Itabaianense de Letras que ao cumprir o papel de registrar as contribuições das pessoas e os fatos relevantes da nossa comunidade, estará contribuindo para o engrandecimento do nosso município." 

De fato! Tem sido um agradável refrigério para minha alma o testemunhar cada Cerimônia de Posse dos Imortais da Academia Itabaianense de Letras - AIL. Tanto que, por vezes e vezes me tomo a, íntima e toscamente, parodiar uma das minhas preferidas pérolas pessoanas: a ABL é maior e melhor do que a nossa AIL, mas, a ABL não é maior e melhor do que a nossa AIL, por que a ABL não é A nossa AIL!
Com tão poucos registros sobre Samuel Pereira de Almeida (o nosso bisavô e o Patrono da Cadeira de n.º 30 da AIL), oriundos dos valorosos trabalhos de Sebrão, 'o Sobrinho', de Vladimir Souza Carvalho, bem como de certos depoimentos seus, minha mana  Tereza Cristina, é impressionante o brilhantismo encontrado no discurso do Acadêmico empossado, Dr. Luciano Correia, que nos faz atentar para o fato de que o seu Patrono fora, antes de tudo, um inovador, um visionário e um vanguardista! Sim. Em lombos de burros, trouxera 'instrumentos de pancadaria' da distante metrópole soteropolitana, tendo em vista dar um novo hálito à música na Velha Loba. Fora do exclusivismo da secular utilização da, então, 'Orquestra Sacra', para fins de serviço de apoio às cerimônias e rituais litúrgicos da Instituição católico-romana nas terras da Irmandade de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, de repente, surge, na vida secular e profana itabaianense, uma atividade voltada para a cidadania republicana e, não somente, para fins religiosos. Como bem lembrou o acadêmico empossado, não se pode desassociar os instrumentos percussivos da música, no mercado fonográfico mundial, nos dias de hoje, sem que se corra o risco de um resultado desanimador. E posso até acrescentar que a própria Igreja se rendeu, em seus cultos e cerimônias, ao ritmo percussivo como não seria possível prever ou supor naqueles intrépidos e aventureiros dias vivenciados por um idealista ceboleiro que, indo para uma cidade infinitamente maior, não perdera, em sua alma serrana, o gosto pelo sentido de um retorno à sua terra, trazendo-lhe o Novo, sendo, ao mesmo tempo, a Preservação do Antigo, sob a aparência da rebeldia e da ruptura. Apesar de reconhecer o grandioso e devido lugar da Música Erudita, como seria possível a criação de uma Orquestra Sinfônica, em nossos dias, no âmbito da  Sociedade Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, laica e irrestritamente "independente" da Instituição Católica, sob a competente batuta de nosso amigo e competente Maestro Valtênio, bem como o empenho do ilustríssimo Dr.  Rômulo De Oliveira Silva, sem a pequenina e ousada ação de nosso bisavô, não é mesmo, TC?! 


Jorge Pi
Fonte da imagem de Samuel Pereira de Almeida: