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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

HÁ UMA RAZÃO PARA ESTARMOS AQUI?


Há uma razão para estarmos aqui!

Qual?!...

Não sei!

Quem sabe?!

Muitos suspeitam, pensam saber, formulam conceitos, pretendem-se donos da Verdade e se enganam...

Limitemo-nos a apenas sentir haver uma razão, percebida por intermédio do sentimento, do coração...

Casamento perfeito: razão-emoção!

Então, o melhor é nos simplificarmos: nada de abstrações complexas a respeito de...

Eis minha filosofia: tenhamos calma em meio aos tormentos desta vida e nos certifiquemos de que somos simplesmente um ser no SER.

Envidemos todos os esforços para nunca nos deixarmos ser enredados pelo desespero.

Mas, quando isto ocorrer (e ocorrerá muitas vezes, é bem verdade!), tenhamos presença de espírito para que possamos compreender que, a despeito da complexa malha de pensamentos turbulentos, depressivos, desesperançosos, na qual costumamos ser capturados, será possível percebermos que, com toda certeza, encontramo-nos, corriqueiramente, mais subjetivos do que objetivos, em consciência.

Quer dizer, ao invés de focarmos nossa atenção para a realidade do nosso momento presente, através dos nossos cinco sentidos objetivos, estaremos, isto sim, em grande medida, voltados para a nossa subjetividade emocional racionalizada (paralizante e desnorteadora, por princípio).

Então, paremos, mudemos o foco de nossa atenção (ou da falta dela), fitemos o olhar em perspectiva e vejamos o mundo material que nos circunda, como ele se nos configura, com muita calma, sem nenhuma pressa, de maneira bem natural, sem nos preocuparmos em qualificá-lo de feio, bonito, bom, mau, valioso, desprezível, etc..

Cumpra-nos, tão-somente, sondá-lo, descobri-lo em cada detalhe: tal qual seja! Como se, pelo fato de vermos o que quer que estivermos olhando/vendo, não pensássemos (ou nos utilizássemos do dinamismo perspicaz de nossa irrequieta mente) mas, apenas, como que tocássemos (sentíssemos), com o fitar o olhar, aquilo que se tornasse o instantâneo objeto do nosso ato de ver: cadeira (isto), mesa (aquilo), parede (aquilo outro)... E toda superfície de cada coisa, objeto, planta, réstia... tudo, enfim, que nossa visão naturalmente fosse capaz de escanear e, numa sucessão de atos de olhar e ver, pudesse ser conscientemente sentida/vivenciada em consonância com um despertar ótico-tátil (substituindo, gradativamente, o olhar distante e sonambúlico do autômato pelo qual nos identificamose nos expressamos, esteriotipadamente, a todo momento, no nosso dia-a-dia, permitindo-nos impregnar do comumente negligenciado Presente que nos é, gratuita e ininterruptamente, ofertado pela Existência, no Aqui e Agora de nossas vidas).

Então, inesperadamente, em determinado instante, haveremos de perceber que sempre estivemos contidos num magnífico Teclado Cósmico, em meio a uma Sutil Harmonia anteriormente ofuscada apenas pela nossa visão embaçada, devido à nossa própria falta de entendimento do que nós somos, em essência e em verdade.

E nós somos, em verdade, o Instrumento...

Mas, também, o Instrumentista...

E uma maravilhosa alquimia realizar-se-á na medida em que nos predispusermos a ser felizes como criancinhas (libertos dos tantos conceitos pré-concebidos, enraizados e automatizados em nossa mente objetiva formada – ou deformada – por uma educação equivocada e extremamente materialista que nos é imposta, geração após geração).

Portanto, ao acionarmos a tecla da visão desperta, tudo aquilo que se configura como sendo de natureza obscura ou nebulosa, desvanecer-se-á, pois, na verdade, nunca, deveras, houvera realmente existido.

E haverá Autoridade e Poder e Felicidade e Redenção e Lucidez, em nós! Por tão-somente possibilitarmos a Plena Manifestação d'O Grande Arcano em um pequenino vislumbre de Eternidade!

Será quando nos convenceremos de que a verdadeira Felicidade, de fato, não se compra; é-nos dada totalmente de Graça!

E não há nada neste mundo de mais valioso do que o vivenciarmos a visão daquele que desperta para a inabalável Paz Profunda que se alcança através de uma simples prática como esta (quando bem sucedida).

E, como uma pequenina semente que germina em silêncio no exercício da aprendizagem da Paciência, em nosso devido tempo, rebentaremos tão eloqüentes quanto o mais vigoroso dos brados dos maiores e mais impressionantes de todos os trovões.

Jorge Pi

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

VER E CONHECER




No início do Livro Primeiro da Metafísica de Aristóteles, encontramos a seguinte e inusitada afirmação:

“Todos os homens, por natureza, tendem ao saber. Sinal disso é o amor pelas sensações. De fato, eles amam as sensações por si mesmas, independentemente da sua utilidade e amam, acima de todas, a sensação da visão. Com efeito, não só em vista da ação, mas mesmo sem ter nenhuma intenção de agir, nós preferimos o ver, em certo sentido, a todas as outras sensações. E o motivo está no fato de que a visão nos proporciona mais conhecimentos do que todas as outras sensações e nos torna manifestas numerosas diferenças entre as coisas.” (Aristóteles, trad. Marcelo Perine, Ed. Loyola, 2002).

Como podemos facilmente apreender, Aristóteles atribui à visão uma função privilegiada à obtenção de conhecimento, em relação aos nossos demais sentidos. Da mesma forma, é muito mais através da visão que divisamos o mundo que nos rodeia; sendo por seu intermédio que, ao despertarmos pela manhã, o nosso psiquismo entra em conexão com a realidade concreta, material, na qual estamos inseridos.
Entretanto, ver é muito mais do que simplesmente olhar. O ‘olhar’, por si mesmo, enquanto um mero e distraído ‘fitar’ determinado ponto ou cena à nossa frente, sem a devida e consciente atenção da atualidade de tal ação (ver), não nos oferece maiores possibilidades de obtenção de conhecimento (no máximo, de fragmentárias faixas de informação perceptiva). Por seu turno, em maior grau do que através dos outros sentidos (por maior propensão, devido à nossa natureza, conforme Aristóteles), o ‘ver’ constitui o melhor método (meio) através do qual nosso intelecto é nutrido e desenvolvido, possibilitando-nos, em conseqüência, mais elementos para melhor lidarmos com o que vejamos, a partir de então.
Grosso modo, num processo cumulativo e ascensional, as informações visuais são capturadas através de nossas percepções oculares e processadas, bem como assimiladas, em nosso cérebro, que as tratará de forma racional, com certa carga emocional (experiência e aprendizado), para fins de que possam ser lembradas (por, assim, terem sido conhecidas) a posteriori. Então, quando ‘vemos’ a imagem que expressa uma determinada idéia (e, tendo sido decodificada esta idéia pela própria imagem veiculada), pode-se atingir muito mais facilmente o entendimento de sua essência, do que meramente através da linguagem escrita, uma vez que haverá uma carga sensório-emocional que na linguagem escrita normalmente não se faz presente (a menos que seja, por exemplo, através do esforço consciente do leitor, ao analisar racionalmente aquilo que está lendo).
Apesar de que, no mais das vezes e por falta de vigilância cognitiva, a dose emocional que dá certo ‘tempero psicológico’ ao nosso processo de ‘ver’, é, displicentemente, negligenciada, comprometendo potencialmente a eficácia dos nossos maiores instrumentos de aquisição ou de construção de conhecimento 'verdadeiro': os nossos preciosos olhos.
Jorge Pi