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domingo, 30 de setembro de 2012

Ontológica Constatação...

      



Há algo de inusitado naquilo que nos parece óbvio. Acostumados que estamos à sua familiar conceituação, deixamo-nos enganar, quanto à captura última, em razão de apressada avaliação que se estabelece com extrema facilidade nos domínios do mundo em que nos encontramos.
               Dizer que "todo ente é no ser", como disse Heidegger em "Que é isto - a filosofia?", é um magnífico exemplo de constação do óbvio. Mas, ao mesmo tempo, é pressentir o inusitado e instaurar a estupefação. E, isto, não de forma determinada, mas num quê de paradoxal alheiamento em conexão profunda com tudo aquilo que há de mais estrutural em nossa capacidade de entendimento.
              Que necessidade temos de conhecer o desconhecido? Ora... a esta pergunta, cabe-nos rebater com uma outra: e se o conhecido necessitar, ele mesmo, de maiores cuidados e atenta observação, em que instância derradeira poderemos nos encaminhar para comungarmos com aquilo que, de fato, ele seja, senão aquela que, por fim, há de nos surpreender por conter em si o germe do des-conhecido? Pois, tudo, em aprofundamento contínuo, sempre desemboca em uma incógnita que revela a percepção de um vazio conceitual a proclamar a magnitude de um silêncio abismal...
             Assim, mesmo os antigos gregos não se sustentaram senão no espanto, graças ao qual, ousaram encarar o mundo e a si mesmos, não com aquela atitude de superioridade tola de quem sabe e se dá apenas ao trabalho de conservar e nunca mais esquecer; mas, convictos de que há mais poder no perguntar, e no perguntar com método e rigor, do que na pretenciosa tendência a supervalorizar respostas, por mais que consistentes e esclarecedoras; eles encararam o ente, numa sutil correspondência com uma indagação visceral e o vislumbraram em permanente recolhimento naquilo que constitui ele mesmo, numa impassível e quase improvável perene reverberação: o Ser...
Jorge Pi 

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