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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Um breve olhar sobre "O Vendedor de Sereias" (Robério Santos)


    De repente, surge uma dúvida se estamos lendo um livro de ficção ou se estamos sendo introduzidos, cirurgicamente, na ficção de uma realidade inusitadamente fantástica por, simplesmente, ser possível de se fazer real.
         Mito e história e fantasia e loucura razoável...
         Vender sereias e raptar inocência é algo tão rotineiro em nossa sociedade doentia e consumista que nos vemos espelhados nas tramas emaranhadas em um aparente caos que serve de ponte entre um cativante início e um arrebatador desfecho nesta obra densa - em sua leveza fluida; plástica - em sua tecitura estanque; viceralmente escorregadia - em sua verdade última...
        Robério Santos nos brinda com uma literatura cativante. Com alternadas doses de suspense, nas quais não se sabe se se deve - ou não! - continuar a ler e, no entanto, escoam-se páginas e páginas e, quando se vê, já não somos mais os mesmos, pois terminamos a leitura e nos tornamos, literalmente, cúmplices desta fascinante saga itabaianense, imersa no imaginário de um povo robusto que se descobre frágil por sua incrivél capacidade de busca e precisão naquilo que foca, estando, no entanto, muitas vezes, distante do atingimento de sua tão incessantemente ansiada meta: ser feliz!
      Trata-se, em suma, de uma denúncia social de grande alcançe sob uma subliminar aparência de "estorieta" "des"-contada... Sereia é medade "algo" e metade "outro"... Dualidade escondida em feição de uma unidade pretendida, em uma diversidade negada... Dois mundos em um só: centro e periferia... Ter e não-ter... Mas é preciso perceber que na capa do livro há um monumental "vazio" no carrinho de mão que nos incita a imaginação, induzindo-nos a sermos "carregados" pelo infante que um dia fomos, regando sonhos e "car"-regando a nossa própria realidade!
         Recomendo!

Jorge Pi