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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

VER E CONHECER




No início do Livro Primeiro da Metafísica de Aristóteles, encontramos a seguinte e inusitada afirmação:

“Todos os homens, por natureza, tendem ao saber. Sinal disso é o amor pelas sensações. De fato, eles amam as sensações por si mesmas, independentemente da sua utilidade e amam, acima de todas, a sensação da visão. Com efeito, não só em vista da ação, mas mesmo sem ter nenhuma intenção de agir, nós preferimos o ver, em certo sentido, a todas as outras sensações. E o motivo está no fato de que a visão nos proporciona mais conhecimentos do que todas as outras sensações e nos torna manifestas numerosas diferenças entre as coisas.” (Aristóteles, trad. Marcelo Perine, Ed. Loyola, 2002).

Como podemos facilmente apreender, Aristóteles atribui à visão uma função privilegiada à obtenção de conhecimento, em relação aos nossos demais sentidos. Da mesma forma, é muito mais através da visão que divisamos o mundo que nos rodeia; sendo por seu intermédio que, ao despertarmos pela manhã, o nosso psiquismo entra em conexão com a realidade concreta, material, na qual estamos inseridos.
Entretanto, ver é muito mais do que simplesmente olhar. O ‘olhar’, por si mesmo, enquanto um mero e distraído ‘fitar’ determinado ponto ou cena à nossa frente, sem a devida e consciente atenção da atualidade de tal ação (ver), não nos oferece maiores possibilidades de obtenção de conhecimento (no máximo, de fragmentárias faixas de informação perceptiva). Por seu turno, em maior grau do que através dos outros sentidos (por maior propensão, devido à nossa natureza, conforme Aristóteles), o ‘ver’ constitui o melhor método (meio) através do qual nosso intelecto é nutrido e desenvolvido, possibilitando-nos, em conseqüência, mais elementos para melhor lidarmos com o que vejamos, a partir de então.
Grosso modo, num processo cumulativo e ascensional, as informações visuais são capturadas através de nossas percepções oculares e processadas, bem como assimiladas, em nosso cérebro, que as tratará de forma racional, com certa carga emocional (experiência e aprendizado), para fins de que possam ser lembradas (por, assim, terem sido conhecidas) a posteriori. Então, quando ‘vemos’ a imagem que expressa uma determinada idéia (e, tendo sido decodificada esta idéia pela própria imagem veiculada), pode-se atingir muito mais facilmente o entendimento de sua essência, do que meramente através da linguagem escrita, uma vez que haverá uma carga sensório-emocional que na linguagem escrita normalmente não se faz presente (a menos que seja, por exemplo, através do esforço consciente do leitor, ao analisar racionalmente aquilo que está lendo).
Apesar de que, no mais das vezes e por falta de vigilância cognitiva, a dose emocional que dá certo ‘tempero psicológico’ ao nosso processo de ‘ver’, é, displicentemente, negligenciada, comprometendo potencialmente a eficácia dos nossos maiores instrumentos de aquisição ou de construção de conhecimento 'verdadeiro': os nossos preciosos olhos.
Jorge Pi

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