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domingo, 27 de julho de 2008

O IDEAL, O REAL E O POSSÍVEL

"omnem crede diem tibi diluxisse supremum"age como se cada despertar fosse teu último alvorecer
[Horácio, Epistulae 1.4.13]

O ideal aponta sempre, em perspectiva, para o distante, o inatingível, para aquilo a que se aspira em estado de suspensão, de contemplação, de perplexidade. Sempre se lançando ao projeto, à expectativa do que há por vir, àquele “aquilo” no qual, invariável e até necessariamente, existe a pressuposição de uma inevitável vocação para o vir a “acontecer” e a se “tornar”, num modo infinitivo de conjugação. No entanto, nada é tão inalcançável quanto o perambular “em linha reta”, ao tempo em que se percorre o entorno de um círculo cujo perímetro tangencia o infinito: o “Ideal”.
Num extremo oposto, o real se caracteriza por uma singular adequação ao que é dado, oferecido, reservado. O “bastar-se a si” é a tônica principal e norteadora de sua cristalização ontológica, donde ressalta a certeza da manifestação enquanto tal, em detrimento de sua quase insuspeita mutabilidade: o “Real”.
Possibilidade, por seu turno, requer uma verdadeira conjunção vetorial dos dois elementos brevemente tratados acima. Pois, fruto da inspiração advinda do refluxo contemplativo do Ideal a intervir (ou interferir), intrinsecamente, na estrutura estratificada do Real, o possível sempre põe os pés na estrada, em atitude pró-ativa de “agente”, mantendo, todavia, a mente e o coração em sintonia com o cintilante brilho das estrelas distantes e, aparentemente, imorredouras em sua incansável atividade produtora de luz.
Assim, “não” de repente é que algo simplesmente se torna possível, quando tão-somente poderia ter sido idealmente vislumbrado ou, absoluta e efetivamente não localizado no âmbito daquilo que costumamos padronizar como “o real”.

Jorge Pi